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quinta-feira, 4 de outubro de 2012

O LAMENTO DO ARCANJO






Ó Altíssima Radiância,
com uma paixão ardente eu canto esta serenata
Ela caminha envolta em um longo peplo sedoso
                & eu lamento, às lágrimas, sua triste partida
Sua tez sardenta fulge numa etérea castidade
Nunca mais olharei naqueles olhos perfumados pelo Céu
Minha visão enfraquece sem sua Figura
Por favor, dai-me qualquer unguento para estas feridas
Eu sou um ramo de cravos sangrando no funeral desta rubra flor
Eu a amava, & seus olhos hoje desprezam os meus
Nenhuma Harmonia emana daquela boca que recusa a minha
Nascido para a Felicidade, encontrei os infortúnios da Virtude
Para aliviar minhas lágrimas ingênuas, só a Graça do Paraíso

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

A IGUALDADE


                                                                           

                                                                                                      Para Luiz Felipe Pondé

Meretriz de longa crina, a treva penteada descendo pelas espáduas
A túnica colorida de aurora moldada ao volume dos seios
Longa seda como véu cobrindo a face
Todo o fulgor da auréola emanando Morte

Crianças brincam com um AK-47 na favela,
               todas gritando vosso nome
Velhos costuram a boca de um professor ranzinza
Pancadões orquestram o ritmo da lobotomia

Não há asilo para mulheres fúteis, poetas místicos & sacerdotes arrogantes

A deusa quer as vozes equalizadas, nada dissonante ou disforme
O Caos é Moema
A Virtude mora no subúrbio

Eu vi raios de sol fuzilando jovens
Mãos justas estrangularam Jesus

Nada é mais puro que a Senhora das Medidas
                Sua vagina recebe Barrabás ensanguentado pela luta

Mulher, eu sei que tens um preço, eis esse holocausto, abraça-me!
Um século de amor contigo & já não há uma mancha na moral do mundo
Vosso é o reino da Pureza
Vosso é o poder da Vida
Vossa é a glória da Razão

Nem o Pai poderia contra vossa força

Iluminais o cosmos cegando todos os que vos indignam
A fogueira para eles
O paredão para eles
O cadafalso para eles
A guilhotina para eles

Em busca do homem perfeito
sacrificarás a Humanidade, vadia


                                                               Manifesto contra
                                                               a vida no formigueiro

Père Kermann's (53,5%)





Eu recomponho a plenitude da Imaginação
cavalgando tua voz, Kermann’s
Quero saudar a libertação do Universo que palpita perpetuamente
                                                                                                   em tua alma
Quando escuto teu grito vibrante na alegria contínua
                                                                              com a força da Terra,
                               eu canto meus poemas dançando com a Morte,
                               essa brisa doente de saudade
Eu compartilho contigo minha exaustão diária no subúrbio,
                               abandonando a Finitude do operário
                               & me descabelando no Infinito
Bailarinas perdem o sono na espuma de nossa luxúria
Violamos mulheres aventureiras perdidas nas esquinas
                                                                                 da Praça João Mendes
Por que obedecer aos burgueses?
Por que alimentar desabrigados?
Nossa fúria não comunga com padres doutrinados na salvação
Nossa loucura nos chuta para a violência da Vida
                               pelo simples prazer de sermos
       violentos como ela
Desobedecemos completamente aos patrões, aos clientes,
                               aos revolucionários de botequim
                               & a todos os eunucos dos partidos


Nossa sombra ri no ritmo melancólico de um violoncelo
vivendo seu êxtase onde Nietzsche
se debruçou para morrer
Criminosos & acadêmicos percorrem a noite brincando
                                               no teatro do exorcismo, mas não trafegamos,
                meu adolescente azul, pelos caminhos deles
De mãos dadas contigo o entardecer
ganha uma triste aurora
                                                                              doce de beijar
Sendo um Espírito Livre não posso viver sem vomitar diariamente
                em órfãos que dormem invocando a Redenção
Toda Estrela da Manhã é meu pecado favorito
Inútil, arqueado sobre mim mesmo, embalo teu corpo quente
                encarnando, pela boca, todas as tuas dissonâncias
Minha consciência desperta numa sepultura disseminada pelo céu,
                onde querubins desobedientes flagelam maconheiros
                                                                              & fumam nicotina
Kermann’s, meu amor, somos mais puritanos que um convento,
                                               vamos sufocar burocratas na Faculdade
                                               de Direito & fugir para a intimidade
                                               do Infinito!
Quero te beijar violentamente & quero me beijes, ó delírio violeta
Todas as náuseas serão carícias tuas
Não há dor quando sou tua lâmina de matar o Tédio

CONHECIMENTO PELOS ABISMOS



Garoto ruivo balançando a cabeleira na caverna
uma fogueira flameja no ventre da rocha escura
eu ali arrebentava estantes com uma clava espinhosa
meu cinturão de balas refulgia iluminando meu umbigo
o que era minha calça encouraçada comendo a luz
meus coturnos pisam em crânios decepados pelos milênios
sem camisa eu suo, debatendo-me nas amígdalas do vulcão
contemplo a força do pentagrama invertido que sangra na parede
outro pentagrama nasce no cascalho amarelo sob meus olhos tristes
ouvir a gravidade do contrabaixo ecoando horríssono pela caverna
sentir os urros daqueles que não vieram para comemorar casamentos
as estacas batem ferozes na profundeza inefável deste útero
                                          onde cruéis demônios esfolam fetos
serão as guitarras dos ensandecidos as responsáveis por toda catástrofe
porque todo copo de vodka é um tiro no coração da estúpida velhice que nos consome
porque todo não dito ao bom senso das massas é um ato de violência individual
                                          & toda brutalidade de um é melhor que a unanimidade de muitos
eu não sei o que seria de mim sem a presença de anjos que saqueiam casebres nas madrugadas
vós sabeis que as mulheres enxergam o primeiro anjo durante a noite & se despem, possuídas pelo ardor
que homem jamais penetrou as chamas de um corpo úmido entregue aos prazeres da possessão
os padres, os pastores, os libertadores conhecem nesta vida mais lábios encarnados que os rufiões
segue por esta trilha, vadia, & acompanha o pentagrama que flutua até a beira do precipício
de lá cairás nos braços cálidos do arcanjo cujas negras plumas acariciarão tua pele sedosa
não temas o fogo, o gelo, as feridas, o sangue, a tortura ou as horríveis cenas de violação:
sempre estiveste com homens muito piores que a estrela da manhã, infinitamente mais vulgares
casarias com um bandido, com Barrabás, se ele te prometesse mudar toda a vida que te deram
Heitor não abraçará o volume envolvido pelo peplo suave de Andrômaca
nenhum herói retorna são dos terríveis esforços que os homens dedicam às guerras
não serei um analgésico para os enfermos, pois meus dedos infestam as paredes dos hospitais
não serei uma consciência em paz por haver pregado a purificação moral da imundície humana:
fora daqui, conscientizadores!
fora daqui, militantes!
meus braceletes vomitam cravos para cortarmos a garganta de vagabundos na noite que adentra estes mistérios
a estátua violentamente arrancada do basalto abre um alar repleto de enxofre 
                                                                                                      & chumbo nesta madrugada sem fim
eu converso com uma face cornuda oculta por uma cabeleira que desgrenha quando a deidade, irosa, lacrimeja
ela canta, & roga para que eu cante junto, em uníssono, para espantarmos os poderes santos do Espírito
que esta gruta guardasse tantos segredos, eu jamais poderia esperar
que eu conhecesse o Inferno, isso sempre esteve fora dos meus desejos
eis-me aqui, um anátema perfeitamente proscrito de toda boa convivência
eis-me todo para ti, uma connaissance par les gouffres