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segunda-feira, 8 de outubro de 2012

AURORA DE MALDOROR II



                                       


Maldoror enlouqueceu no Anhangabaú
            em seus cornos retorcidos as seitas pudicas treparam
            com a Sodoma de cabras & serpentes só vísceras
            em sua cabeleira azul crânios infernais instilavam
            ácido nas ventosas em que devotos se reuniam para esfregarem nádegas
            toda a cor que dormia nos seus dentes macerava o plástico do altar

eu acariciava os cachos do leão-anis
            & ele sangrou uma cidade   púrpura   voragem   mel
            eu verti libações aos espectros dos manguezais
            na tez marmórea do vento ouvi o cinza dos templos
            a acidez melíflua do sangue era uma névoa
            a face inchada do carbono estampava a crueldade
            todos os cadáveres das bacantes decapitados por mim

na abóbada da catedral eu & Maldoror urinamos
            desmanchamos a dinastia das feiticeiras
            ergui os nacos das malditas em honra do Leste Nascente
            Maldoror & eu comemos os membros decepados
            contemplamos uma mescla púrpura-avermelhada
sobre a vulva explorada da Virgem
            nossos deuses dançaram medonhos no carnaval das guerras
            dois cisnes hierofantes   deslizamos no tapete das ruas cariadas.

Vinde conosco dar magia aos famintos
            abri vossos punhos para eviscerar as sacerdotisas
            lavemos nossas brumas com os olhos fenescentes

Vinde dependurar a pestilência nas garras do teto lamacento
deixai o sangue da tirania ouvir vossos leões mortos

Vinde conosco ou abandonai o vento hierofante da aurora de Maldoror.


Auslegung: Maldoror é a Carta Magna, a Constituição da Poesia Marginal. Na verdade, ele é uma Verfassungslehre da Poesia Maldita. Maldoror não é Humildade, Caridade, Solidariedade, Fraternidade. 
Não. Maldoror quer contemplar a beleza da queda humana. Maldoror não é bom com os fracos, com os injustiçados, com os condenados, com os depauperados, com os empobrecidos, enfim, com aqueles que não encaram a tragédia da vida de frente. 
Não. Maldoror é uma estrela vibrando contra todo o Social. Sua noção suprema de Bem & Mal é apenas uma interpretação, uma digestão tirânica, da realidade do homem. 
Os poetas humildes não terão lugar neste blog. Porque eles não abrigam Maldoror em um templo. Eles preferem a Igualdade. But Equality holds back.


sexta-feira, 28 de setembro de 2012

AURORA DE MALDOROR




Nunca encontrei uma alma que não quisesse resistir ao centauro rubro-alado
          & ao seu arco da Verdade.

Quantas vezes não o cruzei na Amaral com a Major, retesando uma língua farpada:

“Ao inferno com vosso ouro & vosso afeto...
Que as rosas beijem meus lábios vivos & não as serpentes mortas.
As violetas que toquem meu músculo na ferocidade do trovão.
Amo a vida, seus calores me engrandecem, combato o maligno & as virgens
                                                                                                              que se entreguem!
Eu vomito flechas chamejantes & trago um machado à cintura...& vós, só enfeites.
Não sois o raio lucino, & não venerais as brumas com sangue e coração!
Quem sois, nádegas quadrúpedes sobre colunas sedentas sem piedade?
Sois os instintos malevos que fenecem nas chamas dos devassos lanhados pela navalha?”

Perturbado pela brisa da tormenta, ouvi um deus em pústulas & sedas purpúreas
      brandindo ferros e roubando o arco do sagitário
                                            (ele urinava nas brumas centáureas com arrogância de velho).

O cavaleiro nitriu pela mandíbula atroz e denunciou sua farsa:
“Meu nome é Déspota, protejo minhas verdades com o vermelho
& decepo meus ofensores com a mesma gula que estupro minhas concubinas.
Dá-me o arco e toda voracidade retornará para esta Avenida, que é seu próprio carrasco!”

Os mendigos & suas flautas amolecidas pela cachaça sobre um banco sem trégua
            contaram as récuas de escravos que outrora pertenceram a este senhor de armas.

Minha mente sacudiu que um império
        decaíra como os grãos pútridos no insosso do Tempo.

O deus leproso sussurrou as razões da correnteza que precipitara a decadência
                                                               para a luminária abraçada por ninfas magérrimas.

Todos os males vulneram os faunos que exalam bílis
        pelas orelhas, sempre ajoelhados sobre uma braguilha imunda.

Eu imaginei as ninfas correndo pela boscagem & meninos atacando-as na volúpia matinal,
   apoderando-se de suas espáduas e cinturas
    oprimindo com fortes estocadas a saúde dos momentos labiais mais profundos,
& sei que o desprezo compõe a paisagem do Elevado
    com o vigor dos vermes & suas perversões,
      mas eu não me preocupo.

            Eu matei o eunuco enquanto ele massageava um fauno no banquete glorioso!
            Eu o enterrei sob uma cama de esterco e urinei sobre seu mausoléu dourado
            & o deus limpava seu nariz na seda & cuspia nas nuvens que o ocultavam dos loucos.

Quem não viu os dedos carcomidos acariciando uma noiva em trajes angelicais?
Quem não a viu ajoelhar-se nas areias voraginosas e deglutir a glande do leproso?

As mais melindrosas jamais deixariam um senhor distinto sucumbir
  sem fruir do sangue rasgado.
Aprendei a não a enjoar dessas hecatombes & estupros
                  pois o medonho assusta até os mais impunes assassinos
& neste tempo em que as flores sucumbem
uma monarquia ascende como um eclipse perpétuo
todas as ninfas & faunos sob a plenipotência de Maldoror, cravo da Vida.


Auslegung: tudo é interpretação, como já dizia Nietzsche. é triste ver nossos poetas interessados mais em política do que em poesia. muitos deles estão mais preocupados com as políticas públicas do tal multiculturalismo do que realmente com o conhecimento da cultura produzida pelos homens. odeiam Harold Bloom, mas não leram 10% do que ele leu. nesse poema eu interpretei Lautrèamont, como é evidente. eu o digeri enquanto caminhava pelo centro podre de São Paulo. os defensores públicos protegem a podridão do centro, porque não são eles que vivem essa putrefação da condição humana. mas isso é conversa de militante. & eu odeio militância.

viva a violência do centauro!


quinta-feira, 20 de setembro de 2012

ATAQUE DO NEGRO BOREAL


Um sopro estelar congelou o vermelho da Major Sertório
e o negro boreal alisou teu dorso com um acorde em chamas
Capricórnios e abutres combateram no clarão do bosque
estilhaços e couro rasgavam o fogo repleto de estátuas
na neurose das núpcias reais os ídolos dos abusos
deprimiram os amores dos pederastas    sem o carvão dos déspotas.

Na alameda de carvalhos e cedros
sob a copa de brilhos que combate os raios de Febo menino
por trás da máscara de gloss e cílios
vossa índia ejaculava uma dolorosa tempestade de bílis
cavalgando um touro de negras convalescenças
derramando suas notas graves nos cantos putrefeitos  do vento sem cabelos.

  No inferno ástreo e brônzeo um cisne apanhou dos corvos
centauros lançavam suas farpas verminosas nas arianas repletas de esperma assírio
vossos corcéis nitrindo e possuindo cavaleiros em nome do Flagelo de Deus
eunucos abatendo as virgens de um harém na Rego Freitas
Maldoror dilacerando seus fantoches em nome das traições humanas
todos os açoites ouviram as nuvens repletas de grutas e morcegos luminosos.

Eu congelei na convulsão das torrentes
e violei muitas ninfas no esfolamento da lua cheia
vossa pele-vermelha    oblações com a carne púbere    deleite para o totem
o mogno alado invadiu meu olhar e depredou a cidade     divino Hórus
os melindres e as doçuras das princesas    as sedas rasgadas    Maldoror
lançou violetas nas coxas bárbaras e a voragem boreal denegriu a hiléia.

Luz e campainhas nas jovens castradas
meu sol de basalto acariciava os seios  em busca de saliva morta
meus centauros deceparam os vapores e os incensos das mucosas
vede agora na voragem gelada de um universo o hediondo séqüito de medusas.


Meus olhares     uma multidão de torpedos na inflamação do vômito
Tormento de fezes sem velocidade     sonolência de cisnes no veneno das saudades
Capricórnios centauros e travestis sangram na rapina do negro boreal.